PONTE DE SOR
“No antigamente, Galveias, no concelho de Ponte de Sor, tinha o poético nome de Vila Nova do Laranjal. E havia lá o costume, aliás comum a outras zonas do país, de se manter um galo cuja única missão era cantar na Missa do Galo na celebração da meia-noite no dia de Natal.
Ora este galo tinha um tratamento muito especial, sobretudo na alimentação e havia disputa entre as pessoas para serem seu anfitrião.
Aconteceu, conta-nos a velha lenda, que um ano houve, em que se apresentaram dois rivais propondo-se tratar do galo da missa. Ambos se gabavam de opulência, de praticarem a caridade e da limpeza de cadastro. O meirinho via-se aflito para os aturar, mas sabia que teria de decidir entre aqueles dois.
E tanta coisa argumentaram, que o meirinho pediu a cada um sua testemunha para serem avalizados os seus testemunhos. E ambos disseram:
– A menina do Laranjal!
E ambos garantiram que iriam casar com ela. E lá foram eles e o pobre do meirinho falar com a menina do Laranjal, uma senhora ainda jovem e muito respeitada.
Logo ambos a pediram em casamento, o que a deixou baralhada de todo. Ora ela tinha uma tia, com quem viva, que lhe respondeu: – Casa com o melhor.
– E qual será o melhor minha tia?
– O melhor é sempre o mais rico.
Recusou-se a menina a obedecer a tal critério, pois desejava ser feliz. E nos pedidos de casamento apenas um lhe falara em amor. Por isso o meirinho sugeriu que este seria o mais honesto dos dois e dispôs-se a confiar-lhe o galo. E assim fez.
Começou então, oficialmente, o namoro entre a menina do Laranjal e o sujeito que guardava o galo. Porém, na antevéspera de Natal, o galo desapareceu. Alguém o roubara.
O responsável era o que o hospedava, e esse foi logo preso, embora alegasse a sua inocência. O outro ria-se.
E a sentença que ameaçava o preso era mesmo a forca no próprio dia de Natal. Como exemplo, dizia o meirinho. Os noivos desesperados entregaram-se a Deus.
À hora da execução, já anoitecia, foi perguntado ao condenado qual era o seu único desejo.
Peço a menina do laranjal e a sua tia, que vão ao alto da torre da igreja, que as quero ver bem antes de morrer!
E elas foram logo escadinhas acima. E, de repente, quando menos se contava, ouviu-se o galo cantar. Uma, duas, três vezes. E o condenado gritou: – O galo está a vê-las!
Cantaste a tempo…. Foi toda a gente a correr e deram com o galo escondido no quintal do outro pretendente. O homem que escapara da morte, gritara que fora milagre. Ele sabia que o galo cantaria de visse a menina do Laranjal!
Agora, quem nunca mais ninguém viu, foi não só o outro pretendente como a tia da menina do Laranjal. A lenda sugere que fugiram juntos com o dinheiro dele…”
Fonte: Portugal Lendário de José Viale Moutinho